Ouvir e falar

Lucas Martins
3 min readFeb 20, 2023

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O cristianismo é uma religião de testemunho, não de violência. Cristãos são aqueles que ouviram falar de Jesus, abraçaram um compromisso de vida com Ele e agora sentem que devem falar dele a outros.

Jesus disse aos seus discípulos: “vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas” (Marcos 16.15).

O apóstolo Pedro escreveu como os primeiros discípulos deveriam fazer isso: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito” (1Pedro 3.15–16).

O cenário que Pedro diz isso não era amistoso aos cristãos. A sociedade era anticristã em sua maioria. Cristãos eram perseguidos por causa do evangelho. Mesmo assim, o apóstolo conhecido de todos pela sua impulsividade aconselha aquelas igrejas a quebrarem o ciclo de ódio e responderem seus adversários com doçura e gentileza.

Na Internet, a gente aprende a falar de Jesus sem nenhuma doçura e sem nenhuma gentileza. Fazendo isso, porém, perde-se a chance de evangelizar (apresentar o evangelho para) muitas pessoas que poderiam ouvi-lo, se nós não fôssemos tão chatos. Experiência pessoal. Ao apresentar a fé cristã de maneira desrespeitosa, não seremos perseguidos por causa do evangelho, e sim pela nossa postura bélica, arrogante, cruel. Mas não tem nobreza nisso.

Muitos cristãos (e eu me incluo) têm dificuldades para comunicar sua fé. Medo de se expor, medo de não saber responder alguma dúvida, medo de estar sendo intolerante, medo de estar sendo tolerante demais a ponto de se tornar um sal sem sabor. Nesse mundo complexo e em constante transformação, ainda é possível falar de Jesus?

Uma pesquisa recente do Barna Group mostrou uma tendência interessante, que eu já tinha percebido na experiência. Boa parte dos não-cristãos (62%) respondeu que gostaria de falar sobre questões de fé com pessoas que ouvem sem julgamento, que não forçam conclusões (50%), que demonstram interesse nas suas histórias de vida (29%) e que sejam bons em fazer perguntas (27%). Eles também responderam que a maioria dos cristãos que eles conhecem não atendem a esses requisitos.

Acho que esse é um bom começo: ouvir mais, falar menos, se importar de verdade com as pessoas, fazer boas perguntas e anunciar o evangelho (1Coríntios 15.1–8).

Não é louco que frequentemente o que tem impedido muitos de se aproximarem de Jesus seja a nossa falta de destreza nas habilidades mais básicas de conversação? Não precisamos ser grandes oradores, que falam difícil e dominam toda a teologia já produzida pela humanidade. Se você quiser apresentar o evangelho a alguém, talvez você precise apenas treinar um pouco melhor seus ouvidos. Talvez você precise aprender a ser um ouvinte mais amigável, mais doce, mais acolhedor.

As pessoas fazem muitas perguntas. A arte, a religião e a filosofia são as grandes interrogações da humanidade, sinais do nosso velho anseio por algo que nos seja anterior e superior.

Saber dialogar a partir da cultura das pessoas é o que Jesus fez quando encontrou Nicodemus (João 3) e a mulher samaritana (João 4), é o que Paulo fez em todo o seu ministério (Atos 13–17). Eles souberam ouvir as perguntas. É provável que os mais inseguros como eu pensem: “eu jamais vou conseguir imitar Jesus ou Paulo”. Algo que me anima, porém, é que o mesmo poder que estava sobre eles, capacitando-os a ouvir e a falar, está atuando também em todos os discípulos.

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Lucas Martins

Cristão, marido, pai, missionário. Formado em Teologia (Betel) e em Filosofia (UFC).